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A “ilha dos Odebrecht” que o Google Maps esconde

No litoral da BA, Quiepe parece escondida a sete chaves. Mesmo em local estratégico, está fora das rotas de navegação. Busca no Busca no Google dá em vazio no mar, em local errado. Mas, com ferramentas livres, paraíso privado foi, enfim, mapeado…

Na Bahia, nas fronteiras entre as regiões geográficas de Valença e Igrapiúna, entrada da península de Maraú, fica uma pequena ilha. Sua posição prolonga a costa do município baiano de Igrapiúna adentro do Atlântico em relação aos municípios limítrofes, ou seja, que fazem limite municipal com a misteriosa ilha.

Esse prolongamento significativo delimita as fronteiras legais que envolvem a Amazônia Azul, como podemos encontrar na plataforma OpenStreetMap, concorrente indireta do Google Maps na “corrida info-espacial” pelos “melhores mapas do mundo”.

Mas como todo mapa tem uma função, é preciso hesitar sobre quais as funções geopolíticas de recursos como Google Maps e OpenStreetMap. O caso da Ilha de Quiepe (ou Kieppe), na Bahia, nos oferece motivos para hesitações


Com o advento dos mapas online a Ilha de Quiepe deveria estar visibilizada, como qualquer outra “porção de terra cercada de água por todos os lados”. Mas não é isso que ocorre na prática.

Efetivamente a busca por Quiepe (ou Kieppe) além de indicar um ponto vazio no mar (conforme a imagem) está posicionada em um local errado do sistema de mapas mais usado do mundo.

O erro do Google Maps, neste caso, é não reconhecer uma ilha como parte do território usado por habitantes e visitantes destas regiões da Bahia. Mas se engana quem acredita que a culpa é inteiramente do Google Maps. Como produtores-usuários (tradução livre do termo produsers, cunhado por Axel Bruns) é preciso termos responsabilidade social ao indicarmos midiaticamente um local no Google Maps.

Sobretudo desde que a plataforma retomou o programa aberto para editores (makers), descontinuado em 2017, as colaborações de geoinformações (como lugares, vias ou áreas) voltaram a ser abertas para todos.

A ilha fantasma e seus donos

Em 2017, segundo um artigo do colunista Manoel Vanderic, a obscura “Ilha dos Odebrecht“, apesar da localização estratégica, “não está na rota das embarcações convencionais e é escondida a sete chaves. Simplesmente foi tirada do mapa e da internet”, diz o texto de Vanderic se referindo ao sistema do Google Maps.

O ato de indicar uma ilha em um local errado é potencialmente prejudicial em todos os sentidos, desde a governança até mesmo a comunicação de viajantes orientados por GPS. No entanto, não devemos ser ingênuos sobre as reais intenções por trás da invisibilização de uma ilha tropical.

Em 2018, segundo o Valor Econômico, os cinco núcleos familiares herdeiros de Norberto Odebrecht, fundador do grupo, decidiram por unanimidade que Maurício Bahia Odebrecht será preparado para ser o novo mandatário da Kieppe Participações.

A Kieppe, nome que a ilha adquiriu dado por quem adquiriu a ilha, é controladora do grupo Odebrecht e a holding que reúne as participações da família e de alguns executivos e ex-executivos que se tornaram sócios, segundo a matéria.

Sobre as reais intenções de manter uma ilha fora do mapa mais usado do mundo, resta a pergunta: afinal, a Ilha de Quiepe (ou Kieppe) tem donos interessados por esta situação?

O que fazer com mapas e como fazer mapas?

Em solidariedade à sociedade civil local, o que podemos fazer, da perspectiva dialética e com base em OpenStreetMap, é editar o mapa livre, de modo remoto, como fizemos. Conforme mostra a sequência de imagens comprova, as edições foram aprimoradas para que esta ilha seja buscada e encontrada no lugar certo no mapa, com informações coerentes.


Conectado ao mapa online é possível ver a residência, a área urbanizada, a zona de areia e de recifes que envolvem quase toda a Ilha dos Odebrecht. Uma paisagem deslumbrante vista com imagens gratuitas da Maxar através do consórcio de dados open source que nos permitem essa acurácia investigativa da qual o Jornalismo, quase sempre, deixa escapar a possibilidade.

Ainda que sejam territórios privados, os mapas públicos podem e por vezes devem registrar ilhas privadas, por exemplo. Por essa e por outras terras privatizadas, seguimos acreditando na necessidade dos diálogos sobre mapas públicos como infraestruturas para o desenvolvimento, a justiça e a igualdade nos usos dos territórios do Brasil.

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